18 de fevereiro de 2006

DEPOIMENTO DE LUIZ GONZAGA: EU SOU UM CABOCO FELIZ


Eu sou um caboco feliz
Se eu nascesse de novo, queria ser o mesmo Mané Luiz
Se eu nascesse de novo e pudesse escolher
Mais do que eu sou eu não queira ser
Eu queria nascer na Fazenda Caiçara
Em Exu, Pernambuco, mesmo na divisinha com o Ceará
E por isso que eu costumo dizer
Que uma banda minha é pernambucana
E a outra é cearense
Quando eu ficasse taludinho assim
Eu queria comprar uma sanfona pra ajudar meu pai lá nos forró
Eu queria ser filho de Januário e Santana
Mais do que sou eu não queria ser não senhor
Se eu nascesse de novo e pudesse escolher
Quando chegasse 1930 eu entrava no colégio
Colégio de pobre é o Exército Brasileiro, sentava o braço
Ah! ah! Fazia revolução como o diabo
Num dava nem um tiro. Eita Brazi bom danado...
Ah! Eu queria ser o Rei do Baião
Mais num era mole não meu irmão
Quando chegasse no Rio de Janeiro em 39
Eu ia tocar na zona violenta, da pesada, lá no mangue
Correndo o pires nos gringo, eu queria ser tudo isso
Oxente! Eu num queria ser o Rei do Baião?
Até que certa noite chegasse lá um grupo de cearense
Diziam que eram universitários
Eu sei lá o que é isso, era tudo estudante mesmo
Depois de me ajudarem muito fizeram uma exigência:
“Olha caboco, quando a gente voltar outra vez aqui nós só damos dinheiro se você tocar um negócio lá daqueles pé-de-serra.
Cê num é sertanejo? Cê num é da Serra do Araripe? “
Eu digo: Sou!
Tá feita a exigência, aí eu fiz a recapitulação
Organizei esse número que eu entrei tocando aqui, o “Vira e Mexe”
É foi ele mesmo!
Quando os cearenses chegaram, eu disse pra eles:
“Tem um negocim aqui pra empurrar em vocês.”
Então lasquei brasa.
- É isso aí caboco!

Luiz Gonzaga
Prosa do disco “Luiz Gonzaga volta pra curtir”
Teatro Tereza Rachel / RJ
24 de Março de 1972

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