18 de janeiro de 2010

A HIERARQUIA DOS BÊBADOS

Um dos maiores erros cometidos pelos leigos em assuntos etílicos é posicionar inadequadamente o cidadão alcoolizado na hierarquia bebunística. Por desconhecerem que há critérios técnicos regulamentados pelo Incopo, costumam chamar, às vezes, um simples biriteiro de pau-d’água ou um pinguço de pé-de-cana. Quanta ignorância! Bebum, pinguço e biriteiro são apenas “estágios” ou “posições hierárquicas” alcançadas de forma meritória com muito denodo e competência. Tomar um porre todo mundo toma, porém, ter status etílico, é outra coisa. De “bêbado” a “papudinho”

1 - Bêbado - É a patente mais insignificante da escala, mesmo porque não chega a ser um profissional. A coisa aí é definida pelo verbo de ligação; normalmente o sujeito está bêbado, não é bêbado. É como os ministros. Eles não são ministros, estão ministros, o que também não impede que o ministro seja ou esteja bêbado. É o pé-de-chinelo da escala.O bêbado, não o ministro, é claro!

2 - Biriteiro - É o cara que, depois de alguns porres, acaba se interessando pela carreira e começa a praticar a bebunagem com regularidade. Como o fígado ainda está tinindo e a família achando que aquilo é só uma “fase passageira”, ele vai metendo os cornos devagarinho. Toma três hoje, duas amanhã, pára no domingo, recomeça na terça, vomita na quinta, toma boldo na sexta, e vai indo… Como ainda não tem certo domínio sobre o álcool, acaba fazendo merda.E depois da primeira, é uma atrás da outra, para alegria dos cunhados canalhas.

3 - Bebum - É uma patente acima do biriteiro. Mais constante e mais previsível, quanto às cagadas que costuma aprontar, o bebum é aquele cara que vive pagando mico, para a vergonha da esposa e felicidade da sogra. Pode ser “sistemático”. Faz merda todo dia, ou “assistemático” não faz mais merda; já tem o suficiente em estoque.

4 - Pinguço - O que faz com que um bebum seja elevado à categoria de pinguço é o horário em que passa a adentrar no recinto cachacístico. O bebum é um notívago por excelência, quer dizer, só costuma molhar o chifre à noite, enquanto o pinguço é um “tardívago”; começa na hora que seria do almoço. Seria, mas não é. Almoço, para pinguço, é perda de tempo. Só pode ter sido invenção de crente.

5 - Pau-d’água - É o pinguço que já perdeu o respeito da vizinhança. Embora seja uma patente alcoólica de grande carisma, a expressão “pau-d’água” é usada por muitos abstêmios como adjetivo pejorativo.E isso é sacanagem.Se o pau-d’água fosse da família deles seria “vítima do alcoolismo”, agora, como não é… É o mesmo preconceito que muita gente tem contra a viadagem; se é da nossa família é “homossexual”,mas se for da família do vizinho é “viado”,”bichona sem-vergonha”.

6 - Pé-de-cana - É o pau-d’água pobre. O cara rico, de porre, é extravagante; o pobre, é impertinente.Se é rico fica eufórico; se é pobre faz vergonha.Rico fica alegre; pobre enche o saco. Rico agita a madrugada; pobre enche os culhões. Não tem como escapar! Só enchendo os cornos para esquecer este preconceito…

7 - Papudinho - É a maior patente da escala, o último e derradeiro degrau. É quando a cara incha de vez, os olhos empapuçam, o passo fica curto, os pés engordam, as mãos vacilam, a voz se arrasta e até o anjo da guarda dá no pé. Geralmente é um solitário. Bebe sozinho, cai sozinho, mija nas calças sozinho, e fica babando no sereno até que uma alma caridosa, normalmente um outro papudinho - se ofereça para ajudar. Ocorre que, muitas vezes, o outro papudinho está ainda mais mamado e acaba caindo também. Aí, para levantar dois papudinhos são necessários outros dois papudinhos, e que quase sempre não aparecem já que estão caídos mais adiante. Daí então, só de revolta, resolvem forma mais uma dupla sertaneja só para torrar de vez com o saco dos brasileiros. Além destas sete patentes, há algumas outras posições intermediárias como sub-bebuns,terceiros, segundos e primeiros pinguços, biriteiros de corveta, etc, mas que são estritamente corporativas e servem, tão-somente, para efeito de promoção.
Figuras como o “Ébrio”, por sua vez, não são mais reconhecidas como patente. O ébrio, pra quem não sabe, é o bebum em desuso. Ainda há alguns poucos remanescentes no mercado mas que a família prende em casa para evitar que façam merda na rua. Os poucos que ainda existem funcionam à válvula, já perderam o contraste e têm sérios problemas com o vertical. E aí, vamos tomar quantas?

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